Trajetórias biográficas do aumento e excesso de peso de mulheres do Programa Bolsa Família, Brasil.

Autores

  • Denise Oliveira e Silva Fundação Oswaldo Cruz Brasília, Brasília, Brasil
  • Danielle Cabrini Universidade de Brasília

DOI:

https://doi.org/10.51723/ccs.v28i02.231

Palavras-chave:

alterações do peso corporal, excesso de peso, obesidade, mulher, programa bolsa família

Resumo

Objetivo: apresentar e discutir resultados de pesquisas sobre narrativas biográficas de mulheres obesas beneficiárias do Programa Bolsa Família no Brasil.

Método: trata‑se da descrição de cinquenta narrativas biográficas de mulheres com IMC acima de 30 kg/m2, das cinco macrorregiões brasileiras, utilizando o método história de vida. As mulheres foram identificadas pelos bancos de dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional e do Cadastro Único para Programas Sociais (ano base 2015) e as entrevistas foram realizadas por telefone.

Resultados: A construção do espaço narrativo biográfico das mulheres identificou a baixa estatura (mediana de 1,57m), a predominâcia de mulheres negras ou pardas (71,6%), nascidas em sua maioria na região nordeste (48,6%), com IMC mediano de 33,9 kg/m2 e mediana de peso de 83,0 kg e os tabus linguisticos relacionados as palavras fome e obesa. Nas trajetórias biográficas foram identificados os constructos de corpoforça e corpo-acima do peso. O corpo-força internaliza as relações de temporalidade entre os ciclos biológicos reprodutivos e de assunção dos papéis de mãe e de dona de casa para enfrentar as dificuldades sociais e econômicas da sobrevivência. O corpo-acima do peso é uma atribuição de externalidade decorrente do julgamento biomédico e estético.

Conclusão: os resultados podem contribuir para o advento de novos caminhos de abordagem que auxiliem as ações de programas e políticas públicas para promover a compreensão do fenômeno do excesso de peso como expressão histórico‑econômica e social, circunscrita na biografia das pessoas que vivem esta experiência num país com grandes desigualdades sociais.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Denise Oliveira e Silva, Fundação Oswaldo Cruz Brasília, Brasília, Brasil

Observatório Brasileiro de Hábitos Alimentares (OBHA), Programa de Alimentação, Nutrição e Cultura, Fiocruz Brasília

Danielle Cabrini, Universidade de Brasília

Departamento de Nutrição da UnB

Referências

1. Brasil. Ministério da Saúde. Vigitel Brasil 2016: vi‑ gilância de fatores de risco e proteção para doen‑ ças crônicas por inquérito telefônico: estimativas sobre frequência e distribuição sociodemográfica de fatores de risco e proteção para doenças crônicas nas capitais dos 26estados brasileiros e no Distrito Federal em 2016. Brasília: Ministério da Saúde; 2017.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Política Nacional de Alimentação e Nutrição. Brasília: Ministério da Saúde; 2012.
3. Ferreira VA, Magalhães R. Obesidade entre os pobres no Brasil: a vulnerabilidade feminina. Ciência & Saúde Coletiva. 2011;16(4):2279‑2287.
4. Kac G. Tendência secular em estatura: uma revisão da literatura. Cad. Saúde Pública. 1999;15(3):451‑461.
5. Mallimaci F, Giménez‑Béliveau V. Historias de vida y método biográfico. Estrategias de Investigación cua‑ litativa. Barcelona: Gedisa; 2006.
6. World Health Organization. Obesity: preventing and managing the global epidemic. Genebra; 1998.
7. Minayo MCS. Hermenêutica‑Dialética como Caminho do Pensamento Social. In: Minayo MCS, Deslandes SF, organizadores. Caminho do pensamento: epistemologia e método. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; 2008. p.83‑108.
8. Merleau‑Ponty M. Fenomenologia da Percepção. 2 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes; 1999.
9. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa de Orçamentos Familiares 2008‑2009: Antropometria e estado nutricional de crianças, adolescentes e adultos no Brasil. Rio de Janeiro: IBGE; 2010.
10. Guerios RF, Mansur. Tabus linguísticos. Revista Letras. 1955;3:7‑37.
11. Orsi V. Tabu e preconceito linguístico. ReVEL. 2011;9(12): 334‑348.
12. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica.Orientações para a coleta e análise de dadosantropométricos em serviços de saúde: Norma Técnica do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional ‑ SISVAN. Brasília: Ministério da Saúde; 2011.
13. Institute of Medicine. Nutrition during lactation. Washington, DC: National Academy Press; 1991.
14. Brasil. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria Nacional de Renda de Cidadania. Perfil das pessoas e famílias no Cadastro Único do Governo Federal ‑ 2013. Brasília: Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; 2014.
15. Mariano SA, Carloto CM. Gênero e combate à pobreza: programa bolsa família. Revista Estudos Feministas. 2009; 17(3): 901‑908.
16. Minayo MCS. Saúde Doença: Uma Concepção Popular da Etiologia. Rev. Saúde Pública. 1990;6(3):278‑292.
17. Foucault, M. A hermenêutica do sujeito. 2 ed. São Paulo: Editora Martins Fontes; 2006.
18. Arnaiz‑Gracia M. Comemos lo que somos: reflexio‑ nes sobre o cuerpo, gênero y salud. Barcelona: Icaria Editorial; 2015.
19. Saint Pol T. Le corps désirable. Hommes et fem‑ mes face à leur poids. Paris: Presses universitaires de France; 2010.
20. World Health Organization. Physical status: the use and interpretation of anthropometry. Genebra: WHO Technical Report Series 854; 1995.

Downloads

Publicado

26.06.2018

Como Citar

1.
Silva DO e, Cabrini D. Trajetórias biográficas do aumento e excesso de peso de mulheres do Programa Bolsa Família, Brasil. Com. Ciências Saúde [Internet]. 26º de junho de 2018 [citado 19º de abril de 2024];28(02):216-25. Disponível em: https://revistaccs.escs.edu.br/index.php/comunicacaoemcienciasdasaude/article/view/231

Edição

Seção

Saúde Coletiva